ÀS DEZ


Roteiro por Tiago Barreto   /   storyboard por Diego Velasco-De Armas


INTERNA. SALA DE UMA CASA

É uma sala simples, como de casas do interior. Alguns móveis, mesa de jantar, sofá, uma mesa de centro...

Uma menininha (8) se despede de sua mãe, que abaixa e dá um beijo nela antes de sair de casa.


MÃE

Tchau, filhinha. Daqui a pouquinho eu volto.


MENINA

Tá bom.


A menina fecha a porta para a mãe, sobe no sofá para ver ela ir embora pela janela, afastando a cortina. Quando a mãe se vai, a menina fecha a cortina rapidamente, desce do sofá bem rápido, apressada, e sai correndo pela casa.

Corta para um relógio, um cuco, desses de madeira. Faltam uns 5 minutos para as 10 da manhã. Ouve-se o ruído do relógio marcando os segundos, o tic-tac, tic-tac, tic-tac. Este ruído, bem marcado, dura o filme todo.

Corta para a menina, apressada. Ela faz um esforço tremendo para arrastar a mesa de centro para o canto da sala. Depois que consegue, ela sai correndo e volta com uma caixa grande, mas rasa (tipo caixa de frutas de feira), e coloca em cima da mesa.

Corta para o cuco. Agora faltam uns 4 minutos.

Corta para a menina, agora com mais pressa. Ela está revirando uma armário da sala, tirando algumas coisas que encontra lá dentro: outras caixas, listas telefônicas, livros, tudo o que possa servir de apoio.

Ela pegas duas listas telefônicas e corre para colocar na pilha de coisas. Essa situação se repete diversas vezes: a menininha vai correndo de um lado para o outro, tirando coisas do armário e levando para o outro lado da sala. Não vemos mais a pilha sendo construída, só a sua correria de um lado para outro, indo com tralhas na mão e voltando de mãos vazias. Intercalando com sua correria de um lado para o outro, cortes para cenas do cuco, cada vez mais adiantado, cada vez mais perto das 10h. O tic-tac vai ficando mais alto, mais marcado, os segundos vão se acelerando, o ritmo e a tensão do filme se acentuam. Até que chega um momento em que o tic-tac está frenético, rápido, alto.

Corta para a menininha parada, olhando incrédula para o que conseguiu fazer: uma pilha muito, muito alta, feita com as coisas da casa (essa pilha pode ter um tamanho fantasioso, sendo mais alta do que o teto da casa. É o imaginário da menina). Ela olha para o cume da pilha: lá em cima, na parede, está o cuco, o relógio do filme todo, batendo forte.

A menina começa a escalar a pilha, com dificuldade. O relógio vai batendo ainda mais forte, falta só 1 minuto para as 10h. Ela está na metade da pilha, o ponteiro que marca as horas começa a se mover, vagarosamente. Ela está quase chegando lá em cima, e o ponteiro está quase marcando as 10h.

Então, finalmente ela chega no cume da pilha. Então ela pega dois sapatos de salto alto (bem maiores que seus pés, são sapatos da sua mãe), e calça. Exatamente no mesmo instante, o cuco marca 10h, soando as badaladas. O passarinho de madeira, o cuco, sai de dentro do relógio.

A menininha pega o passarinho, segurando-o. Abrindo um pequeno sorriso, ela faz cafuné na cabeça dele, com carinho. E então tira alguma coisa do bolso: é um potinho com grãos, alpiste, que ela oferece para o passarinho comer.


MENINA

Come... você deve tá com fome, né?



FIM